Desenvolvimento Postural – O que significa ter uma boa postura?
Define-se a boa postura como a capacidade do corpo controlar a sua posição e também reagir e adaptar-se às forças do mundo externo num equilíbrio constante, quer durante o repouso quer durante o movimento, utilizando o mínimo esforço muscular para o conseguir.
O desenvolvimento das curvaturas da coluna e reflexos musculares associados, necessários a uma boa postura, iniciam-se na fase embrionária e têm maior desenvolvimento na fase de crescimento.
Durante os primeiros 4 anos de vida dá-se um rápido desenvolvimento da estrutura vertebral e do sistema nervoso, pelo que os anos pré-escolares são de extrema importância para a “definição e estruturação” de uma boa postura.
Assegurando uma boa postura nos primeiros anos de vida diminui-se consideravelmente a incidência de dores de costas nas crianças, adolescentes e adultos.
Tomemos um exemplo:- uma criança que tem uma postura curvada para a frente terá maior probabilidade de ter uma alteração do seu padrão postural, o que significa que na sua vida diária necessitará de empregar um maior esforço físico, com maior dispêndio de energia, o que a induzirá em fadiga muscular e dor, bem como na necessidade de utilizar mecanismos de compensação (recurso a estruturas muscúlo-esqueléticas que normalmente não são solicitadas para esse movimento).
Os mecanismos de compensação e os maus hábitos posturais implicam que partes do corpo, como o pescoço e a coluna lombar, acabem por sentir maior esforço e tensão, levando a desconforto e dor que poderão resultar em menor aptidão para o exercício, mais letargia, lesões e eventualmente deformações do corpo, tais como: escoliose (curvaturas ou desvios laterais da coluna) ou cifose (uma corcunda a meio das costas), podendo estas alterações levar a uma diminuição da capacidade respiratória (por diminuir a mobilidade das costelas que são necessárias aos movimentos da respiração); estas deformações podem também aumentar a pressão exercida no abdómen levando a uma maior pressão sobre os órgãos e intestinos podendo alterar o seu pleno funcionamento.
Tudo isto é ainda mais importante quando estamos perante um corpo em crescimento e movimento constante (criança).
Como ajudar as crianças a desenvolver e manter uma boa postura?
– A actividade física
O corpo humano foi “desenhado para se mexer”. Com o exercício o organismo desenvolve-se e fortalece-se. O desporto e a atividade física promovem o ” despertar” e a aprendizagem das capacidades, fragilidade e possibilidades motoras, desenvolvendo a coordenação, a força e a agilidade, resultando num aumento do ego e da autoconfiança.
Diga-se, portanto, a talhe de foice, que é importante limitar os tempos de televisão e jogos electrónicos que fazem com que as crianças fiquem sentadas por longos períodos.
– Mobília adequada
Esta deve ser apropriada ao tamanho e idade da criança.
As secretárias devem ser ligeiramente inclinadas (ângulo entre os 12.º e 24.º graus) de forma a facilitar a leitura, a escrita e a evitar uma postura debruçada. Estas devem permitir uma posição descontraída do tronco – em que os cotovelos se encontram ao nível da secretária -, um suporte para os pés forma a melhorar o equilíbrio e a reduzir a pressão sobre a circulação sanguínea dos membros inferiores -, e uma profundidade do assento – este deve ser menor que as coxas (fémur) para facilitar o apoio da coluna lombar nas costas da cadeira (mantendo um ângulo de aproximadamente de 90.º graus) e evitar que o rabo escorregue para a frente.
As cadeiras não devem ser baixas de mais, de forma a que as crianças não tenham de subir os braços e os ombros para conseguir o apoio na secretária, evitando assim um maior esforço ao nível dos músculos do tronco e pescoço. Isto constitui um problema, sobretudo em idades que já há diferenças notáveis de tmanho entre as crianças, sendo o imobiliário estandardizado.
Cadeiras e secretárias desconfortáveis (em especial nas escolas) levam ao cansaço precoce e a uma redução da capacidade de concentração das crianças e adolescentes.
Também o tempo de estar sentado deve ser limitado, de forma a evitar um aumento da pressão (stresse) sobre a bacia e coluna.
– Consulta de oftalmologia
Crianças que vêem mal tendem automaticamente a ter uma alteração postural para conseguirem ler e escrever melhor.
– Boa alimentação
Um bom desenvolvimento postural depende de uma boa estrutura e de um funcionamento corporal adequado, sendo para isto necessário uma dieta equilibrada e diversificada.
A obesidade infantil contribui, em muito, para a má postura e para o aparecimento precoce de dores, lesões e queixas musculo-esqueléticas.
– Consulta de dentista
Alterações do alinhamento dos dentes ou arcadas dentárias provocam profundas alterações da postura da cabeça e pescoço, o que por si só altera o equilíbrio postural do resto do corpo.
– Calçado adequado e encorajar o ” andar descalço!”
As meninas querem muito ser iguais às mães e os sapatinhos com saltos são uma tentação! O uso de saltos na infância implica muita pressão sobre estruturas que ainda não estão totalmente desenvolvidas, podendo lesionar e desencadear alterações estruturais que podem prejudicar, de forma marcada, o desenvolvimento postural.
As crianças tendem a ter uma melhor postura quando andam descalças frequentemente, desta forma conseguem desenvolver uma maior informação sensorial dos pés e um maior desenvolvimento dos arcos, o que leva a uma melhor postura e forma de andar.
*Andar descalço é bom mas é necessário garantir a segurança certificando-se que o chão está livre de perigos.
– Metas de desenvolvimento
Devemos encorajar os bebés a adquirirem força nos músculos do pescoço e das costas; a partir do 3º mês de vida podemos colocar o bebé de barriga para baixo durante pouco tempo de cada vez, mas muitas vezes ao longo do dia (sempre com vigilância de adulto), o que nada tem a ver nem é incompatível com a recomendada posição de dormir de barriga para cima. Este exercício é um estimulo inicial para o desenvolvimento da força, do tónus e da melhor coordenação necessários para alcançar as metas de desenvolvimento motoras, tais como: rebolar, sentar, gatinhar, andar, correr e saltar.
Por vezes os pais e os avós tendem a proteger as crianças de estarem no chão, ou porque está mais frio, ou sujo, ou porque não lhes é cómodo; o contacto com o chão é necessário e fundamental para o desenvolvimento motor do bebé.
As lagartas e “baby bouncers” devem ser evitados. Os bebés desenvolvem-se ao seu ritmo e por vezes estes “brinquedos” podem precipitar ou excluir uma meta de desenvolvimento, por exemplo se o bebé gosta de saltar no saltitão (baby bouncer) pode acontecer que a perspectiva de explorar o chão já não seja tão aliciante.
– O Uso de Mochilas na idade escolar – pesos e sua distribuição
As mochilas não devem ultrapassar 10% do peso corporal e devem ser colocadas sempre com os dois apoios nos ombros. A utilização, quando possível, dos cacifes das escolas e a utilização de trollys é uma boa forma de fazer face a este problema.
A PERSPECTIVA OSTEOPÁTICA
A osteopatia é uma terapia manual que trata o funcionamento e a mecânica do sistema musculo-esquelético, dedicando especial atenção à postura e à correção do mesmo, salvaguardando o desenvolvimento do padrão postural desde bebé.
Factores que podem originar uma alteração do desenvolvimento do padrão postural;
– Tensões e esforços em excesso durante o parto, especialmente a nível do crânio e pescoço, podem dar origem a padrões de compensação logo no pós-parto que perduram durante o crescimento;
– Alterações genéticas, metabólicas e neurológicas;
– Gravidez de gémeos, que por terem menos espaço para o crescimento intra-uterino podem desenvolver-se em posições mais torcidas, as quais podem perdurar no crescimento;
– Traumas e acidentes.
A observação dos pais e educadores é fundamental para que as alterações posturais sejam detectadas e tratadas o mais cedo possível. Tais alterações podem incluir:
– um desnível dos ombros, sendo um mais alto que o outro, na posição de sentado e\ou andar;
– mobilidade assimétrica do pescoço;
– quando a roupa parece que nunca assenta bem;
– se a cabeça regularmente pende para um dos lados;
– se tem dificuldade em manter uma postura correta sem esforço (sem queixas), por ex: à mesa, a fazer os trabalhos, no sofá, ao andar…
– pouca vontade ou interesse para o exercício físico;
– dores de cabeça recorrentes.
Sempre se pensou que as crianças por serem “novinhas e flexíveis” não tinham alterações musculo-esqueléticas, mas este ideia não corresponde à realidade. Algumas queixas que os pais apresentam ao pediatra têm na sua origem uma componente mecânica que contribui para o motivo da consulta.
Por este motivo a osteopatia é cada vez mais recomendada a recém-nascidos, pois, quanto mais o corpo avançar no crescimento de forma desalinhada, mais difícil será de o equilibrar.
A osteopatia consegue através de terapêuticas exclusivamente manuais libertar o corpo das mais diversas restrições mecânicas.
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