Medicamentos para dormir à base de melatonina

É com frequência que nos aparecem em consulta pais a querer informações sobre o melamil, ou outros medicamentos à base de melatonina. Têm filhos com problemas no sono e é de facto uma solução muito sugerida, nas redes sociais, por familiares e amigos. Neste sentido pensámos que seria interessante poder esclarecer mais pessoas que têm a mesma dúvida. O que é afinal a melatonina e quando devem os nossos filhos tomá-la?
São muitas as famílias que têm dificuldade em ter uma noite completa sem despertares. Estima-se que 27% das crianças até aos 5 anos de idade têm dificuldades com o sono, seja em adormecer no início da noite ou mesmo em manter-se a dormir durante toda a mesma. Nesta óptica faz então sentido que os pais procurem ajuda para que toda a família descanse melhor. Muitos deles acabam então por escolher o uso de suplementos, à base de melatonina, ou outro tipo de bebidas, para atenuar este cansaço, frequentemente sem que estes resolvam o problema.

O que é então a melatonina?
A melatonina é uma hormona que o nosso organismo produz, através da glândula pineal. É responsável pela regulação do ritmo circadiano do sono, funcionando como um marca-passo do início do sono. Não havendo nenhuma alteração hormonal, a melatonina é naturalmente produzida pelo nosso organismo na ausência de luz. Neste sentido, a sua produção é inibida pela luz solar ou por uma luz forte (luz azul), como a que é produzida pelos ecrãs. A melatonina tem indicações terapêuticas, e, como funciona como indutor de sono, é frequentemente usada nas insónias comportamentais nas crianças pequenas.
No entanto, o facto de uma criança ter dificuldade em adormecer não significa obrigatoriamente que necessite de tomar melatonina. Qualquer tipo de medicamento deve ser sempre tomado com indicação médica, uma vez que todos os medicamentos têm efeitos secundários. Na maior parte dos casos, a dificuldade em adormecer das crianças é resultado de uma dificuldade das próprias em se acalmar e em adormecer sozinhas, e é também o resultado dos hábitos vão adquirindo. As dificuldades em se autoconsolarem fazem com que os pequenos despertares que todas as crianças têm, se tornem em verdadeiros despertares com dificuldade em readormecer ao longo de toda a noite. A maioria das crianças saudáveis com dificuldades em adormecer têm também múltiplos despertares noturnos o que torna o tratamento com melatonina, que é apenas um indutor do início do sono, frequentemente ineficaz, motivo pelo qual nestes casos só deve ser usada em contexto de um plano terapêutico e com vigilância médica.
Existem técnicas cognitivo-comportamentais que permitem ajudar uma criança a ter sono e a terminar com os despertares noturnos, sem que haja necessidade, na maior parte dos casos, do uso de medicamentos. Os pais podem estimular a produção e libertação natural da melatonina, e ajudar a criança a sentir-se segura para adormecer. Falamos de pequenas alterações na rotina da criança, e da família envolvida, que vão facilitar o sono de todos. É possível, sem recorrer a métodos agressivos que ponham em causa a estabilidade da criança, ensinar uma criança a adormecer de uma forma autónoma e tranquila.

Como sei que o meu filho precisa de tomar melatonina?
Não esquecendo que a melatonina é composta num medicamento, só deve ser tomada com indicação médica, e tem várias implicações terapêuticas.
A toma de melatonina só resulta se englobada num plano terapêutico que inclua mudanças de hábitos e rotinas e o tratamento medicamentoso deverá ser de curta duração (ao longo de dois, três meses). A terapêutica com melatonina serve apenas como facilitador da introdução de outras medidas, quando por exemplo os pais se encontram esgotados por várias noites mal dormidas. Por isto a insónia comportamental da criança deve ser tratada em primeiro lugar com medidas cognitivo-comportamentais, às quais se pode associar numa fase inicial melatonina, se os pais estiverem muito cansados ou se a criança for particularmente difícil, mantendo sempre presente que os hábitos e as rotinas são os facilitadores de um sono tranquilo. A melatonina pode ajudar, ao encurtar o tempo de adormecer, uma vez que atua como indutor do sono, mas não vai resolver todos os problemas, nomeadamente os despertares noturnos.
A medicação existe porque de facto é indicada na presença de algumas doenças, ou por já estar instalado um ambiente destabilizado no seio familiar. No entanto, são sempre famílias acompanhadas por um pediatra que detecta a necessidade da ingestão da melatonina e adequa a resposta à sintomatologia. A necessidade de medicamentos deve sempre ser monitorizada por um médico especialista que ajude a criança a equilibrar os sonos que estão desajustados. Será mais eficaz, e menos prejudicial para qualquer criança, adequar estratégias especificas que promovem a qualidade do seu sono. Sem sabermos, estamos a prejudicar o funcionamento hormonal natural de uma criança na esperança de melhorar as noites.

Artigo escrito em parceria pela Dra. Sílvia Afonso (Pediatra) e pela Dra. Mafalda Navarro (Psicóloga)

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